sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

O Poder dos Mass Media (continuação)

Será que as condições de recepção das mensagens estão preenchidas para a concretização da democracia?
Os “mass media” têm sido os maiores impulsionadores do consumo, que através de campanhas publicitárias, atraem a população, transformando, segundo Boaventura Sousa Santos, a “publicidade num factor decisivo de rentabilidade”, de segmentação de mercado e, portanto, de promoção da competição e segundo alguns observadores, responsáveis pela fragmentação da sociedade. Esta competição, entre empresas por mais clientes e entre os media pelo aumento da audiência, funcionam um em função do outro, com o mesmo fim e dentro da mesma lógica de mercado, o lucro. Os primeiros, porque usam este poderoso meio para chegar aos potenciais clientes, seduzindo-os para o consumo; os segundos, porque maior audiência significa mais receita e maior poder económico. Resultando daqui, entre outras coisas, a perda de autonomia e o fim, ou, pelo menos a limitação, da pluralidade de escolha, tanto para os media como para os cidadãos. A partir do momento em que surge a televisão, que ocupou quase todo o espaço público dos media, o seu poder de influência, tem vindo a atrair a si, empresas e outras organizações que ambicionam fazer chegar a sua mensagem a um maior número de pessoas possível. Daí que os media, com principal incidência para a televisão, tenham vindo a ser, também, o meio privilegiado de divulgação da actividade e acontecimentos políticos.
Até meados do Séc. XX o poder dos meios de comunicação vinha do seu papel de “fairless watchdogs”, vigiando o exercício do poder, protegendo o público das injustiças e dos erros e dando a este, a informação necessária que lhe permitisse o controlo democrático. Além desta e, como afirma James Curran, uma outra função lhes era atribuída, a de providenciarem uma plataforma, de debate aberto, facilitadora da formação da opinião pública para o desenvolvimento da cidadania. Ainda segundo este autor, a concepção de que os media são a voz do povo, porque permite a ligação entre Instituições do Estado, partidos políticos, sociedade civil e cidadãos, é fundamentada na possibilidade, dada pelos meios de comunicação, de interacção entre emissor e receptor, no processo de comunicação, tornando possível a existência de uma democracia participativa e de cidadania, portanto, de interesse público.
Presentemente e tal como no sector económico, são os grandes grupos do sistema media, onde a televisão aparece novamente em posição privilegiada, que são o palco de exposição da “propaganda” promovida pela classe política. Nas sociedades modernas actuais, a política depende directamente dos meios de comunicação, sendo uma grande parte das agendas e as decisões políticas, produzidos para os media, com a intenção da obtenção do apoio dos cidadãos ou abrandar porventura, alguma oposição relativamente às decisões tomadas. Os media são um centro de poder, porque têm autoridade de agendar o que vão transmitir, quando, quem, que temas, que acontecimentos, etc., só que, essa agenda está cativa dos políticos e dos jornalistas dos grandes meios de comunicação, significando, portanto, que a liberdade da comunicação, não se traduz, assim, numa liberdade de escolha dos “mass media”, nem na liberdade de escolha dos cidadãos, porque ambos recebem o que lhes é transmitido. O que chega à esfera pública, é uma parte da actualidade política e social, aquela que serve os interesses de alguns, que se restringe a uma selecção prévia dos temas, a contextualização ou o “timming”, promovidos ora pelos mass media, ora pelos jornalistas, ora pelos políticos.
O objectivo continua a ser o mesmo, o poder de cativar audiências e influenciar a opinião pública, mesmo que se recolham sob a capa da democracia informativa, na promoção da opinião esclarecida e participativa dos cidadãos. Como diz Manuel Castells no texto Comunicação, poder e contra-poder “As relações de poder, são relações que constituem a fundação de todas as sociedades, assim como o processo que desafia cada vez mais as relações institucionalizadas do poder progressivamente formado e decidido no campo da comunicação”
A capacidade de influenciar as mentes humanas é, assim, uma forma de exercício de poder, que como já foi referido, é protagonizado pelo poder económico, pelo poder político e pelos meios de comunicação, sendo este último, também um canal de ligação entre os primeiros e os cidadãos. Numa perspectiva simplista sobre o papel dos media no processo democrático, apenas o Estado liberal é tido como uma fonte de opressão e ameaça mas, na opinião de James Curran, o Estado, ao estar sob um forte controlo legislativo e vigilância por parte de organizações não governamentais, das oposições governamentais ou outros meios, deixa o caminho livre a outras fontes de poder, menos expostas à crítica e atenção pública. (continua)

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