sábado, 27 de fevereiro de 2010

O poder dos "Mass Media" (continuação)

A televisão é, sem dúvida, o meio de comunicação mais popular, o mais abrangente e aquele que produz efeitos imediatos junto do público. Isto acontece, não apenas porque a televisão reproduz de forma mais rápida a actualidade informativa mas, também, porque diminiu o tempo de reação, dado que as mensagens transmitidas são mais curtas e a imagem tem, como dizem alguns críticos literários, um efeito de real, de poder fazer ver e fazer crer no que se faz. Segundo escrevia Pierre Bourdieu, “esta potencialidade e vocação tem efeitos de mobilização”.
Ora, sendo a imagem, a mensagem mediática mais poderosa é, por isso, aproveitada também como forma de dar visibilidade aos governantes e líderes políticos. Ao expressar-se através da televisão, o político consegue alcançar um vasto público e sendo este diverso, do ponto de vista sociocultural, a mensagem política tem que ser construída de forma a chegar e ser interpretada por todos. Uma das formas de alcançar todo esse público é através do empobrecimento do discurso, da repetição da mensagem e do recurso a vocabulário repetitivo. Outra forma é a recorrência aos mesmos critérios de marketing ou a produção da política espectáculo, que permite unir a imagem ao discurso, despertando nos receptores, determinados sentimentos, como o de intimidade ou de estar a assistir a um espectáculo, que acabam por desviar, esse mesmo público, da reflexão sobre os problemas políticos e sociais. Ora, esta forma de actuação, não apenas limita o esclarecimento dos factos mas tem também, como consequência, a descontextualização dos problemas e o encobrimento de algumas dificuldades organizacionais.
Então diria que carácter populista da televisão ou do jornalismo popular que, aparentemente, pretende ser uma forma de ligar ao processo democrático as pessoas pouco interessadas nas questões públicas e interesses políticos, parece, no entanto, implicar diferentes compreensões sobre o que é a democracia, dando origem a divergentes pontos de vista acerca do que afinal a democracia exige dos media ou da comunicação social. Este tipo de jornalismo, que se caracteriza pela personalização, simplificação e focagem na acção faz das notícias histórias acessíveis e envolventes. Ou seja, faz-se uma cobertura das notícias altamente selectiva, porque as pessoas não têm grande interesse nos problemas públicos, oferecendo-se notícias curtas e histórias breves para distrair ou que façam disparar o alarme para algo que requeira a atenção pública imediata. Coloco a dúvida se a falta de interesse deste público é a causa ou o resultado deste tipo de jornalismo.
No meu entender, sendo a televivão e a imprensa escrita um espaço privilegiado para o debate de ideias, para a pluralidade e a verdade na informação, deveria estabelecer-se, conjuntamente, para os media, prioridades na concretização da democracia e da cidadania. Não apenas, para cumprimento do seu papel, enquanto instrumento de esclarecimento do cidadão e o reflexo da multiplicidade social nos vários domínios, como, para fazer do pluralismo o verdadeiro factor de enriquecimento das possibilidades de formação, informação e de um conjunto de escolhas independentes colocadas ao dispor do público.
Daí que, como forma de enriquecimento da democracia, os media deveriam transmitir na integra as notícias sobre os diferentes acontecimentos e eventos importantes, num contexto cujo significado pudesse identificar causas, consequências e implicações para que, os cidadãos, fossem devidamente informados. Mas esta é, infelizmente, uma situação que está dependente do estabelecimento de prioridades, de agendas, escolha de determinados temas, da lógica concorrencial e carácter populista dos programas televisivos, que põe os grande media a falar sobre os mesmos assuntos e apenas a verdade que interessa. (ainda continua)

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Dia Europeu da Vítima de Crime - 22-02-2010



“Violência é um comportamento que causa dano a outra pessoa, ser vivo ou objecto. Nega-se autonomia, integridade física ou psicológica e mesmo a vida de outro. É o uso excessivo de força, além do necessário ou esperado.”
Esta é uma das muitas definições do conceito "violência" e que podemos encontrar em dicionários e enciclopédias, mas nenhuma das palavras nelas escritas expressa, efectivamente, a brutalidade do seu significado e das suas consequências.
Existem muitas tipologias de violência e todas elas me chocam, no entanto, a violência física e psicológica, que é habitualmente dirigida àqueles que menos possibilidades têm de se defender, os idosos, as mulheres e as crianças, choca-me e envergonha-me especialmente. Este tipo de violência continua a ser aquela que ainda tem a “face mais oculta” na sociedade, pois muitas vítimas sofrem em silêncio e sós, sentem uma culpa que não têm e carregam em si o peso de preconceitos e valores sociais que ainda legitimam este crime.
As imagens falam por si…

domingo, 21 de fevereiro de 2010

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Crónica de um País asfixiado...de democratas

O conflito entre governo e comunicação social, tornou-se o centro de todas as atenções, preocupações, discussões, debates, e opiniões e, o país, um palco do “acho que”, onde todos são abonadores da moral pública e juízes nacionais, com principal incidência para a imprensa. Mas, se a imagem dos políticos e da política se tem vindo a degradar desde o 25 de Abril de 1974, o que temos vindo a assistir na praça pública, nos últimos meses, não apenas aprofunda essa imagem como afasta, cada vez mais, os cidadãos deste país de uma postura de cidadania activa e de interesse pela actividade política. Para os distraídos, relembro que estamos a braços com graves problemas económico-sociais que afectam o dia-à-dia de milhares de famílias portuguesas, o tecido produtivo-económico nacional, a sustentabilidade económica do nosso país e a credibilade de Portugal no contexto Internacional.
Tornou-se “normal” ouvir e ler-se, nos diferentes meios de comunicaçao social, que em Portugal se está viver uma “asfixia democrática”, que não existe “liberdade de expressão” e que o governo, na pessoa do primeiro ministro de Portugal, está empenhado, não apenas na aniquilação de um direito constitucional do nosso Estado Democrático como, pior, está a desenvolver um plano de destruição do Estado de Direito.
Se são apontadas ao governo, membros do governo e outros, irregularidades de governação e, se os políticos são apontados por corromperem valores da Democracia e do Estado de Direito, contribuíndo, desta forma, para o conflito que temos vindo a assitir, a verdade é que a comunicação social não fica isenta de culpas. Os jornalistas e imprensa jornalística, que se arrogam como juízes deste Estado de Direito e que vivem do sensionalismo criado à custa de crimes, como a divulgação de processos judiciais sigilosos, que citam fontes anónimas e do “diz que disse” como base de sustenção da divulgação das suas notícias, não estão só a devassar o governo, pessoas e políticos como estão, igualmente, a desmoralizar o nosso país, precisamente porque usufruem do direito de liberdade de expressão.
Agora imagine-se o primeiro ministro de Portugal a insultar os jornalistas da forma como o Dr. Alberto João Jardim o faz publicamente, ou então, como escreve Luis Calisto (Director do Diário de Notícias da Madeira) o governo da República, em vez de “querer já tivesse comprado a TVI, alimentando-a com dinheiros públicos e proibindo a estação de divulgar a opinião de políticos não PS, reservando toda a antena para quem obedece ao regime rosa , tal como Jardim faz aqui com o Jornal da Madeira, dispensando-se de guardanapo? Ou se Sócrates suportasse financeiramente um qualquer Jornal Nacional como o faz o Governo Regional, que além de financiar o Jornal da Madeira é também o único que recebe toda a publicidade institucional e é onde o Dr. Jardim tem uma coluna de opinião várias vezes por semana?”
Onde estão, então, os defensores da liberdade de expressão na Madeira? Não me lembro de ouvir uma frase ou ver escrita uma linha de nenhum ilustre defensor do Estado de Direito, a indiganada oposição e jornalistas do continente, sobre a “asfixia democrática” na Madeira. Indo mais longe na imaginação e seguindo a linha das opiniões e indiganação dos partidos da oposição e de certos jornalistas sobre os acontecimentos aqui no continente, diria que a Madeira estaria neste momento a viver um outro 25 de Abril, no mínimo!
Na minha opinião, o aproveitamento deste conflito, por parte da oposição, evocando o superior interesse dos cidadãos, e do país, se não fosse uma demonstração degradante e triste da actual amoralidade política, até seria uma piada de sucesso garantido para um qualquer talk show nacional. É que, no momento de grave crise económica, em que o governo está obrigado a produzir um Orçamento de Estado de conteção de despesa e a apresentar à União Europeia um programa de Estabelidade e Crescimento credível, com o objectivo de não levar Portugal à “banca rota”, assistimos incrédulos a esta coisa estraordinária: os partidos à esquerda e à direita do governo, minoritário, coligam-se, indo contra as suas bases ideológicas, e obrigam, esse mesmo governo, a reduzir a receita e a aumentar a despesa.
Mais impressionantre ainda é ouvir o Dr. Alberto João Jardim apelar a essa mesma coligação. Imagine-se um governo de coligação entre Manuela Ferreira Leite, Paulo Portas, Francisco Louçã e Jerónimo de Sousa.
É de risos!!! Os Gato Fedorento não fariam melhor.
Entretanto os portugueses vão assistindo, diáriamente e desconfortávelmente, a um desfilar de acusações, de desmentidos, de julgamentos públicos, de vitimizados, de acusadores e de juízes. Um “lavar de roupa suja” que apenas tem vindo a revelar a premiscuidade instalada entre os difentes poderes e entre estes e as Instituições do Estado. Um espectáculo deprimente em que os protagonistas (aqueles em quem devíamos confiar para velar, actuar e defender os princípios da democracia) mais não têm conseguido do que aprofundar a describilidade, a confusão, o desalento e a desconfiança e, o pior, o total desmonoramento do nosso Estado Democrático.
Senhores políticos, Portugal precisa ser governado pois os problemas da vida real continuam à espera. Haja alguém se lembre!!

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

O Poder dos Mass Media (continuação)

Será que as condições de recepção das mensagens estão preenchidas para a concretização da democracia?
Os “mass media” têm sido os maiores impulsionadores do consumo, que através de campanhas publicitárias, atraem a população, transformando, segundo Boaventura Sousa Santos, a “publicidade num factor decisivo de rentabilidade”, de segmentação de mercado e, portanto, de promoção da competição e segundo alguns observadores, responsáveis pela fragmentação da sociedade. Esta competição, entre empresas por mais clientes e entre os media pelo aumento da audiência, funcionam um em função do outro, com o mesmo fim e dentro da mesma lógica de mercado, o lucro. Os primeiros, porque usam este poderoso meio para chegar aos potenciais clientes, seduzindo-os para o consumo; os segundos, porque maior audiência significa mais receita e maior poder económico. Resultando daqui, entre outras coisas, a perda de autonomia e o fim, ou, pelo menos a limitação, da pluralidade de escolha, tanto para os media como para os cidadãos. A partir do momento em que surge a televisão, que ocupou quase todo o espaço público dos media, o seu poder de influência, tem vindo a atrair a si, empresas e outras organizações que ambicionam fazer chegar a sua mensagem a um maior número de pessoas possível. Daí que os media, com principal incidência para a televisão, tenham vindo a ser, também, o meio privilegiado de divulgação da actividade e acontecimentos políticos.
Até meados do Séc. XX o poder dos meios de comunicação vinha do seu papel de “fairless watchdogs”, vigiando o exercício do poder, protegendo o público das injustiças e dos erros e dando a este, a informação necessária que lhe permitisse o controlo democrático. Além desta e, como afirma James Curran, uma outra função lhes era atribuída, a de providenciarem uma plataforma, de debate aberto, facilitadora da formação da opinião pública para o desenvolvimento da cidadania. Ainda segundo este autor, a concepção de que os media são a voz do povo, porque permite a ligação entre Instituições do Estado, partidos políticos, sociedade civil e cidadãos, é fundamentada na possibilidade, dada pelos meios de comunicação, de interacção entre emissor e receptor, no processo de comunicação, tornando possível a existência de uma democracia participativa e de cidadania, portanto, de interesse público.
Presentemente e tal como no sector económico, são os grandes grupos do sistema media, onde a televisão aparece novamente em posição privilegiada, que são o palco de exposição da “propaganda” promovida pela classe política. Nas sociedades modernas actuais, a política depende directamente dos meios de comunicação, sendo uma grande parte das agendas e as decisões políticas, produzidos para os media, com a intenção da obtenção do apoio dos cidadãos ou abrandar porventura, alguma oposição relativamente às decisões tomadas. Os media são um centro de poder, porque têm autoridade de agendar o que vão transmitir, quando, quem, que temas, que acontecimentos, etc., só que, essa agenda está cativa dos políticos e dos jornalistas dos grandes meios de comunicação, significando, portanto, que a liberdade da comunicação, não se traduz, assim, numa liberdade de escolha dos “mass media”, nem na liberdade de escolha dos cidadãos, porque ambos recebem o que lhes é transmitido. O que chega à esfera pública, é uma parte da actualidade política e social, aquela que serve os interesses de alguns, que se restringe a uma selecção prévia dos temas, a contextualização ou o “timming”, promovidos ora pelos mass media, ora pelos jornalistas, ora pelos políticos.
O objectivo continua a ser o mesmo, o poder de cativar audiências e influenciar a opinião pública, mesmo que se recolham sob a capa da democracia informativa, na promoção da opinião esclarecida e participativa dos cidadãos. Como diz Manuel Castells no texto Comunicação, poder e contra-poder “As relações de poder, são relações que constituem a fundação de todas as sociedades, assim como o processo que desafia cada vez mais as relações institucionalizadas do poder progressivamente formado e decidido no campo da comunicação”
A capacidade de influenciar as mentes humanas é, assim, uma forma de exercício de poder, que como já foi referido, é protagonizado pelo poder económico, pelo poder político e pelos meios de comunicação, sendo este último, também um canal de ligação entre os primeiros e os cidadãos. Numa perspectiva simplista sobre o papel dos media no processo democrático, apenas o Estado liberal é tido como uma fonte de opressão e ameaça mas, na opinião de James Curran, o Estado, ao estar sob um forte controlo legislativo e vigilância por parte de organizações não governamentais, das oposições governamentais ou outros meios, deixa o caminho livre a outras fontes de poder, menos expostas à crítica e atenção pública. (continua)

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

O Poder dos "Mass Media"

A história do homem é a história da comunicação, pois esta tem sido, ao longo de toda existência humana, uma questão essencial para a vida em sociedade, marcando presença em todas as áreas da nossa actividade. O homem é um ser que vive em comunidade e esta particularidade, faz com que o ser humano se preocupe com a comunicação e com os “meios de comunicação”. À medida que o homem comunica entre si, não só descobre o mundo, como descobre o “outro”, vai criando códigos próprios para comunicar, para explicar, conhecer, compreender e informar. A comunicação está, assim, intrinsecamente ligada à informação e vise versa, pois para existir comunicação tem que, obrigatoriamente, existir conteúdo, sendo a informação que se troca e como se troca, uma condicionante à relação e ao sentido da comunicação.
Estamos a falar de uma variável muito importante, cuja influência se fez e continua a fazer sentir profundamente, e talvez cada vez mais, na evolução das sociedades. Mas a comunicação não é apenas uma variável isolada, ela é, sobretudo, a parte mais importante de um processo, pelo qual os indivíduos se relacionam e transferem informação, uma forma de alimentar relações, de partilhar emoções e sentimentos, com níveis de significados diferentes, sendo por esta razão, aproveitada como fonte de poder sobre os outros, de dominação e mudança social.
Com o desenvolvimento tecnológico, novas técnicas e tecnologias foram integradas na comunicação e na informação, conferindo-lhes um outro poder, o de alcançar cada vez mais indivíduos e poder participar e interferir nas suas actividades. A intensificação e divulgação da informação feita através dos meios electrónicos, como a televisão ou a internet, permitiram, não apenas uma aproximação espacial e temporal entre indivíduos, ao conhecimento de novas realidades, a uma homogeneização de comportamentos, mas também, a um outro tipo de organização social, à diminuição do contacto interpessoal e à influência ao consumo. O ser humano passou a servir-se de destas ferramentas que o auxiliam no processo de produção de comunicação, para o envio e recepção de mensagens, passando de uma comunicação de pequena escala, entre a sua comunidade, para uma comunicação mais alargada e de grande escala a comunicação de “massas”, a “comunicação social” ou “mass media”. Segundo Dominique Wolton, a comunicação, sendo um dos símbolos da modernidade, tem duas funções distintas, a normativa e a funcional. A primeira, porque torna comum o que é comum, facilitando a partilha e a “troca intersubjectiva”; a segunda, porque se tornou numa necessidade de comunicação das economias e das sociedades abertas para a troca de bens e serviços e para fins económicos, financeiros e administrativos e, eu acrescentaria também, para fins políticos.
A partir do momento em que os media ocuparam todo o espaço público, as empresas e outras organizações, são atraídas por estes meios, porque querem fazer chegar a sua mensagem a um maior número de pessoas possível. Segundo Bourdieu “A televisão, que pretende ser um instrumento de registo, torna-se instrumento de criação da realidade.”
As capacidades e potencialidades dos media, não são, portanto, autónomas do peso de algumas estruturas da sociedade. O reconhecimento desta realidade, evidência o poder de influência dos meios de comunicação ao serviço dos interesses de quem manda, a classe económica e a classe política, tornando-se num veículo transmissor de uma cultura e de uma ideologia mediáticas de massas correspondentes a esses interesses, moldando e alterando hábitos, valores e culturas dos indivíduos.
E se a democracia é um regime político que respeita, garante e promove os “direitos e liberdades fundamentais dos indivíduos, visando a realização da democracia económica, social e cultural e o aprofundamento da democracia participativa” , entre eles a liberdade de expressão e informação, os media, tornaram-se um centro de poder institucionalizado, um meio de vigilância e forças de produção, conforme diz Casttells “the support for the social production of meaning” e representação das opiniões públicas, que nada tem de democrático. Este tipo de democracia, impede os cidadãos ao acesso e à liberdade de escolha entre as diversas opções e a alternativas possíveis, limitando-os apenas àquelas que lhe são apresentadas e, claro, estas representam os interesses e os ideais de apenas alguns.
De uma forma sintetizada, podemos dizer que, a centralidade dos “mass media” na sociedade moderna se revela em três aspectos diferentes. Por um lado, enquanto instrumentos de poder e exercício do poder, de dominação ideológica ou conquista de visibilidade, são alvo de variados condicionalismos, expectativas e pressões vindos das estruturas económicas, sociais e políticas dominantes; por outro lado, pelo poder que exercem sobre os comportamentos, as atitudes e valores dos indivíduos, em particular, e da sociedade, em geral; por último, pela conquista que têm vindo a ter, na vida das pessoas, ocupando um espaço cada vez maior, substituindo-se a outras formas de relação e participação social. Como diz Bourdieu, a televisão exerce “ uma forma particularmente perniciosa de violência simbólica (…) que se exerce com a cumplicidade tácita dos que a sofrem e também, muitas vezes, dos que a exercem na medida em que uns e outros estão inconscientes do facto de a exercerem ou de a sofrerem”
(continua)

O Sorriso

Creio que foi o sorriso,
o sorriso foi quem abriu a porta.
Era um sorriso com muita luz
lá dentro, apetecia
entrar nele, tirar a roupa, ficar
nu dentro daquele sorriso.
Correr, navegar, morrer naquele sorriso.

Eugénio de Andrade

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

domingo, 14 de fevereiro de 2010

... no dia de S. Valentim

“A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade.”

Carlos Drummond de Andrade

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Humberto Delgado - o General Sem Medo


Faz amanhã, dia 13 de Fevereiro, 45 anos que Humberto Delgado foi morto pela PIDE em Espanha. Foi na localidade espanhola de Villanueva del Fresno.
Este militar, que era um repúbicano convicto, colaborou no golpe de estado de 28 de Maio de 1926 e apoiou durante vários anos o regime salazarista, mas acabou por ser, também, um dos seus principais opositores.
Os seus valores de liberdade, justiça social e progresso conduziram este homem a uma tomada de consciência de que o regime político que ajudou a implementar, a didatura, não se tinha tornado numa verdadeira república, mas sim, num regime cada vez mais repressivo sonegando ao povo, liberdades fundamentais e mergulhando, esse mesmo povo, num profundo empobrecimento.
Depois de alguns anos a viver nos Estados Unidos da América e incentivado por alguns opositores de Salazar, acabou por aceitar candidatar-se à Presidência da República em 1958. Durante a campanha eleitoral e em resposta a um jornalista sobre qual a sua tomada de posição relativamente a Salazar, repondeu – “Obviamente, demito-o”. Esta frase e toda a coragem demonstrada durante essa campanha levaram a cognomina-lo de General Sem Medo.
Acabou por perder as eleições para Américo Tomás e, dada a sua oposição ao regime e a Salazar, acabou por pedir asilo político à Embaixada do Brasil e mais tarde, acabou mesmo por pedir exílio. Em 1962 lidera um golpe de estado contra o quartel de Beja, mas que correu mal.
Indo ao engodo de um encontro com opositores do regime salazarista, dirigiu-seà localidade fornteiriça de Villanueva del Fresno em Espanha, onde foi assassinado por um grupo da PIDE liderado por Rosa Casaco.
Só depois do 25 de Abril de 1974 os autores do crime foram levados a tribunal.
Os restos mortais do General Sem Medo jazem no Panteão Nacional.

Cabecinhas pensadoras...

Está instalado em Portugal um clima político-económico, que eu diria ser no mínimo “estranho” e, cujas consequências sociais e outras, a curto, médio e longo prazo, estão ainda, muito longe de determinar ou antever.
Como se isto não fosse, já por si, motivo mais do que suficiente para preocupações ou pelo menos, gerador de alguma reflexão e contenção de posturas de alguns indivíduos/personalidades que exercem funções em áreas fundamentais da sociedade, vejo, com perplexidade juntarem-se à “festa” os autarcas deste concelho onde vivo. Não é que seja inédito acontecerem “coisas estranhas” nesta autarquia, mas, quando se pensa que já se viu de tudo, eis que surge algo ainda mais surpreendente. Desta vez, imagine-se, os edis camarários, ou seja, presidente e vereadores que formam o executivo camarário e representam os dois partidos eleitos, o PSD e o PS, andam em luta por causa de uma proposta: a de conceder aos funcionários da autarquia, dispensa do serviço no dia de aniversário, ou, se por motivos de força maior não seja possível a dispensa no dia, usufruir de um outro dia à escolha do próprio aniversariante.
O Partirdo Socialista, tirou esta ideia da cartola (que para mim não é mais do que uma deplorável caça ao voto) e apresentou uma proposta, que tornou logo pública, vindo a mesma na ordem de trabalhos para discussão na Sessão de Câmara do dia 8-02-2010. O Partido Social Democrata, deve ter considerado uma boa ideia e, vai daí, vota contra a proposta do PS comunicando, aos presentes, que vai apresentar, na próxima Sessão, uma outra proposta, em quase tudo idêntica, mas com uma variante, só terão direito à folga os funcionários que tiverem determinada avaliação.
Claro que não vou opinar acerca da avaliação de desempenho e dos seus efeitos perversos, pois esta matéria já é, por si só, mais do que suficiente para longos debates, divergência de opiniões, motivadoras de muitas polémicas, frustações e outros efeitos psicológicos nos trabalhadores e muito mais…
Mas apetece-me perguntar o seguinte, a uns e a outros, será que a concelho no seu todo, os comerciantes, os agricultores, as crianças, jovens, mulheres, idosos, empregados e desempregados, enfim, todos os cidadãos destre concelho não lograrão, por parte destes senhores, de outras preocupações e outras prioridades muito mais urgentes? Será que as finanças da autarquia estão assim tão boas ou os recursos humanos suficientes que, num periodo de conteção financeira que é mais do que uma prioridade, se possa ter o luxo de dispensar funcinários, pagar horas extraordinárias aos outros que ficam a substituir os primeiros, pior, que se obrigue os que ficam a fazer essas horas em vez de estarem com as suas próprias famílias?
Pelo que me dá a perceber, foi lançada a confusão. O resultado final desta polémica, a continuar, é imprevisível, mas era totalmente escusada se os intervenientes tivessem um nadinha de bom senso e usassem de uma faculdade, que no reino animal e vegetal apenas o ser humano está habilitado a fazer, que é pensar/raciocinar. Não existirá uma outra proficiência mais útil a dar a tanta "energia" e vontade de trabalhar dos nossos eleitos?
Resta, portanto e já que o mal está feito, mostrarem algum sentido de responsabilidade e reconhecimento da asneira cometida, ou, teremos no nosso concelho mais uma politiquice de quintal, totalmente dispensável.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Fernando Pessoa

Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes,
mas não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo.
E que posso evitar que ela vá a falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver apesar de todos os desafios
incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e
se tornar um autor da própria história.
É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar
um oásis no recôndito da sua alma.
É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.
É saber falar de si mesmo.É ter coragem para ouvir um 'não'.
É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.

Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo...

(Fernando Pessoa)

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

ATLETISMO NO BOMBARRAL


O Bombarral, apesar de ter o seu nome associado, desde há muito, a modalidades desportivas como o ciclismo e o futebol, nos últimos anos tem vido também a ter grande destaque noutras modalidades como a ginástica, lutas amadoras, o xadrez, o futsal, artes marciais, etc. e nesse campo, acabou por criar algumas infra-estruturas ou condições/espaços mais ou menos adaptados para a prática dessas modalidades. Relativamente ao atletismo, apesar de alguns habitantes deste concelho se terem destacado, fazem-no individualmente ou integrados em grupos os associações desportivas oriundas de outros concelhos, porque não encontram aqui, no nosso concelho, nenhuma estrutura associativa nesta área desportiva, nem o apoio técnico ou incentivo que uma organização pode disponibilizar para a prática do atletismo (seja para si ou para os seus filhos) e claro, espaços físicos adaptados a certas especialidades como o lançamento de peso, martelo, dardo, salto em comprimento, salto em altura, salto com vara ou velocidade.
No sentido de tentar colmatar o vazio existente nesta vertente desportiva, foi criada a Secção de Atletismo da Associação dos Bombeiros Voluntários do Bombarral que, através de um grupo de amantes do desporto em geral e do atletismo em particular, vai desenvolver a partir de 2010, diversas actividades e iniciativas desportivas, dirigidas não só para a vertente lúdica e de lazer de crianças, jovens e adultos de todas as idades e de todo o concelho, de forma planeada e regular, como, também, uma vertente de “procura de novos talentos” nas diversas especialidades do atletismo e respectiva iniciação, treino e participação em competições desportivas.
Para além das actividades programadas para o ano de 2010 e, sendo este o ano zero, a nossa actividade implicará, também, um esforço reforçado tanto na divulgação desta secção de atletismo como também no recrutamento de recursos humanos para engrandecer este projecto, atletas, apoiantes e colaboradores aos mais diversos níveis.

Está já programada a primeira actividade para o dia 25 de Abril, com um Passeio pedestre (percurso a seleccionar) a realizar-se durante a manhã, com início na praça do Município. A actividade inicia-se com exercícios de aquecimento colectivo e coordenado e termina no mesmo espaço, com alongamentos e se possível (com a colaboração de entidades competentes) com rastreio da tensão arterial. Oferta de uma T-shirt e uma garrafa de água, no início da competição e, no final, oferta de uma garrafa de água e uma peça de fruta – Valor simbólico de inscrição.

Para mais informações, os interessados podem contactar:

Paula Maurício - telemóvel 962360550

José Henriques- telemóvel 925941350

Luis Biscaia - telemóvel 926602011

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Certas Palavras

Certas palavras não podem ser ditas
em qualquer lugar e hora qualquer.
Estritamente reservadas
para companheiros de confiança,
devem ser sacralmente pronunciadas
em tom muito especial
lá onde a polícia dos adultos
não adivinha nem lança.

Entretanto são palavras simples:
definem
partes do corpo, movimentos, actos
do viver que só os grandes se permitem
e a nós é defendido por sentença
dos séculos.

E tudo é proibido. Então, falamos.

Carlos Drummond de Andrade, in "Boitempo"