quarta-feira, 29 de julho de 2009

Festival do Vinho no Bombarral terminou

Terminou no passado domingo, mais uma edição do Festival do Vinho Portugês no Bombarral e, finalmente, parece que o certame mudou de cor e de moldura...para melhor! É que, até agora, todas as edições eram fotocópia a preto e branco da edição anterior. Quem foi à V edição, viu o mesmo na X edição e assim sucessivamente, o que era uma "chatice"!!!
Por coincidência ou não, em 2008 já se terá notado o início desta mudança, quando entraram para a organização do festival dois elementos novos, Sr. Marcos Proença, comerciante do Bombarral e o Sr. Salvador, militante do partido socialista.
Parece por isso evidente, e será uma interessante matéria para reflexão, a eficiência e os benefícios produzidos, não só, com a admissão de novos elementos nas equipas, como também, com o trabalho multidisciplinar - neste caso quase multipartidário- para o bem comum ou da comunidade. Porque quem ganhou foi o concelho do Bombarral, os bombarralenses e todos aqueles que participaram no Festival, os visitantes, os artistas, os expositores, os produtores e comerciantes.
Bem haja a todos. Para o Ano há mais.
Entretanto, entre os dias 5 e 9 de Agosto, irá realizar-se a XIV Feira Nacional da Pera Rocha, que esperamos, tenha o mesmo sucesso.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Nas coisas mais simples reside a grande beleza da vida


... e quem é que fica com saudades?

Ouvi hoje o ex ministro Manuel Pinho dizer que não tem saudades da forma como se faz política em Portugal. A sensação que tenho, é que existem mais a pensar assim, poucos, mas existem, por isso se afastam, são afastados ou, por opção, ficam na sombra.

O cidadão eleitor, se questionado, talvez aproveitasse as duas frases que transcrevo mais abaixo, para expressar também o seu pensamento, já que não têm tempo de antena, nem andam com os jornalistas atrás a questioná-los, como fizeram ao Sr. ex ministro.

"Tudo o que peço aos políticos é que se contentem em mudar o mundo sem começar por mudar a verdade "
Fonte: "De la paille et du grain"
Autor: Paulhan , Jean


"Os políticos não conhecem nem o ódio, nem o amor. São conduzidos pelo interesse e não pelo sentimento "
Fonte: "Letters" Autor: Chesterfield , Philip

Com um intervalo de alguns séculos, o que mudou...

O objecto principal da política é criar a amizade entre membros da cidade
Autor: Aristóteles


A política tem a sua fonte na perversidade e não na grandeza do espírito humano
Fonte: "O Livro dos Disparates" Autor: Voltaire

Meditação Sobre os Poderes

Meditação Sobre os Poderes

Rubricavam os decretos, as folhas tristes
sobre a mesa dos seus poderes efémeros.
Queriam ser reis, czares, tantas coisas,
e rodeavam-se de pequenos corvos,
palradores e reverentes, dos que repetem:
és grande, ninguém te iguala, ninguém.
Repartiam entre si os tesouros e as dádivas,
murmurando forjadas confidências,
não amando ninguém, nada respeitando.
Encantavam-se com o eco liquefeito
das suas vozes comandando, decretando.
Banqueteavam-se com a pequenez
de tudo quanto julgavam ser grande,
com os quadros, com o fulgor novo-rico
das vénias e dos protocolos. Vinha a morte
e mostrava-lhes como tudo é fugaz
quando, humanamente, se está de passagem,
corpo em trânsito para lado nenhum.
Acabaram sempre a chorar sobre a miséria
dos seus títulos afundados na terra lamacenta.

José Jorge Letria, in "Quem com Ferro Ama"

sábado, 25 de julho de 2009

As polítiquices da "política"

Tal como a disciplina de voto, que salvo algumas excepções, pode ser muito castradora aos interesses da sociedade, do bem comum, das populações, enfim, dos cidadãos, também nas coligações partidárias, o que está errado é mesmo a "política"! Dito de outra forma, se o interesse real dos candidatos fosse exactamente o que dizem, o melhor para a "terra" para a qual concorrem, seja Lisboa, Freixo de Espada-à-Cinta ou a Saimoca - já nem falo do país - então as questões partidárias, ideologias políticas e partidos, não teriam absolutamente importância nenhuma. O problema é que os partidos estão sempre em primeiro e os discursos vão sempre no mesmo sentido! Vencer, ganhar, rasgar, derrotar os outros partidos da oposição - porque são sempre todos da oposição. Chegou a tal ponto, que muitas vezes, já nem nas campanhas eleitorais, as promessas são colocadas em primeiro plano, mas sim, o dizer mal dos outros candidatos, do que fizeram mal ou do que não fizeram. Vencer, não por mérito próprio, por propostas interessantes, por trabalho realizado, mas sim, por descredibilizar o adversário. Para o vulgar cidadão eleitor, esta imagem da cena política portuguesa e dos seus intervenientes, apenas acrescenta mais descrédito ao descrédito já acumulado.
Os "políticos" e os partidos, ainda não se aperceberam que têm que mudar de paradigma, ou melhor, já mudou o paradigma, e estes nem se aperceberam ainda, tão concentrados que estão no seu umbigo e no seu "mundozinho". Os interesses mudaram, os ideais alteram-se, a sociedade mudou, as necessidades e os objectivos das pessoas e das populações são outros, portanto, a maneira de fazer política e de utilizar os instrumentos políticos, terá obrigatoriamente que mudar também. Esta reflexão que é, para muitos, inconcebível, seria uma mais-valia, caso a preocupação fosse de facto os cidadãos. Se o interesse dos candidatos, fosse realmente o cidadão eleitor. Se o objectivo principal fosse simplesmente o utilizar a política, e com isso, o acesso que esta dá e os instrumentos que esta disponibiliza, para a gestão e administração do bem comum, da sociedade, da comunidade ou colectividade - esta é, aliás, a origem e o objectivo da política, ouvir-se-iam, em primeiro lugar, os cidadãos, pois é a eles que a política deve servir, mais que não fosse, porque são eles que votam. Ou já se esqueceram disso? Caso assim acontecesse, então o objecto, a forma de ver e fazer política seria outro, bem diferente e aquilo a que muitos chamam "política", seria efectivamente política, assim, não é mais do que "politiquice", “tricas políticas” ou coisa pior!
Com a aproximação de eleições, como é agora a situação, tudo o que de mau existe na “política” se evidencia, até no simples acto de formação das listas de candidatos. Os jogos “políticos” vão ao rubro, tal como a corrida aos lugares elegíveis, pois não se pode perder a oportunidade de acrescentar, ao currículo pessoal e profissional mais um título ou progressão na carreira; facultar aos filhos, esposos e amigos a oportunidade de arranjarem um cargo ou emprego melhor; arranjar mais uns trocos para comprar uma vivenda junto ao mar ou passear no estrangeiro, etc. etc.
Cigarras que cantam muito é o que não falta, mas, tal como na história infantil, quem trabalha, quem se esforça, quem trabalha em comunidade e para a comunidade são as formiguitas, a quem ninguém dá valor e que se matam com facilidade.Quando deixa de fazer calor e chega o Inverno, lá estão elas, as cigarras, a bater novamente à porta das formigas…
Mas existem excepções e ainda bem!

quarta-feira, 22 de julho de 2009

XXVI FESTIVAL DO VINHO PORTUGUÊS- BOMBARRAL




XXVI FESTIVAL DO VINHO PORTUGUÊS



Teve início no dia 18 de Julho de 2009, mais uma edição do Festival do Vinho Português.


Este certame, que já vai na sua 26ª edição, tem como objectivo principal, a divulgação dos vinhos da região Oeste em geral e do Bombarral em particular.


É uma festa do vinho e sobre vinhos, por isso, muitas regiões vitivinículas nacionais estão aqui representadas, sendo possível não só apreciar alguns dos melhores vinhos produzidos em todo o país, participando nas provas de vinhos ou comprando esses vinhos a preços mais baixos, como também, visitar os diversos stands e tasquinhas, onde se pode apreciar boa comida, artesanato, doces e enchidos regionais.


Para além destas propostas, os visitantes podem também assistir, nestes dias, a diversos espectáculos musicais, fazer contactos e negócios ou visitar o nosso concelho, que é detentor de algumas belezas naturais, de lugares e monumentos capazes de proporcionar belos momentos de lazer.


Deixo aqui algumas dicas:


Grutas do Vale do Roto e o Castro da Columbeira; Palácio Gorjão onde está instalado o Museu Municiapl; Aldeia do Carvalhal, onde se pode visitar a Capela da Srª do Socorro ou do Santíssimo Sacramento; Quinta dos Louridos e jardim Buda Eden- Jardim da Paz.


O Festival termina no próximo dia 26, mas em Agosto há mais...

A partir do dia 5 e até ao dia 9 de Agosto, irá realizar-se o
XIV Festival da Pera Rocha.
Não falte e venha visitar o Bombarral.
Vai ver que vai gostar!



quarta-feira, 15 de julho de 2009

Abstenção eleitoral

A liberdade de escolha é um instrumento fundamental e essencial para a prossecução do bem comum e individual sendo, por isso mesmo, um dever intransmissível de todos os cidadãos e do Estado Democrático.
O exercício político do povo, “(...) através do sufrágio universal, igual, directo, secreto e periódico, do referendo e das demais formas previstas na Constituição” ( artº 10º ponto 1 da Constituição) é um direito consagrado a todos os cidadãos portugueses desde a Revolução de 25 de Abril de 1974. No entanto, temos assistido em Portugal e ao longo da ainda pequena história da democracia Portuguesa, a uma queda substancial de negação voluntária deste instrumento democrático. Dito de outra forma, o povo, que depois de 48 anos de ditadura e opressão se revoltou e derrubou o chamado regime fascista, para que lhe fossem restituídos os direitos liberdades e garantias, usurpados por Salazar e Marcelo Caetano durante quase meio século, é o mesmo povo que agora prescinde desse direito, não votando e portanto, não exercendo o tal poder político consagrado na Constituição.
As diferentes eleições Nacionais realizadas desde a Revolução do 25 de Abril, legislativas, autárquicas, presidenciais, referendos e, desde 1987 para o Parlamento Europeu, têm revelado, salvo algumas excepções, uma percentagem cada vez mais elevada quanto à abstenção. Significando portanto, que são cada vez mais aqueles que, no enquadramento legítimo da sua liberdade de escolha, não exercem o seu direito de voto ou de cidadania política. Segundo alguns autores e citando como exemplo Manuel Vilaverde Cabral ”a cidadania política possui uma especificidade que justifica um tratamento sociológico próprio. Com efeito, uma vez adquiridos e enquanto forem respeitados, os direitos humanos - desde a inviolabilidade da pessoa até à igualdade perante a lei, subsumidas nos direitos civis tal como Marshall os concebe - tenderão a ser usufruídos de forma, por assim dizer, passiva, isto é, sem que para isso os seus beneficiários tenham de se mobilizar”. Este autor refere também que no que concerne directamente aos direitos políticos“ - liberdade de expressão e de associação, bem como o direito de eleger e ser eleito- os cidadãos podem usufruir desses direitos constitucionais sem os exercerem plenamente” (Manuel Vilaverde Cabral).
Neste contexto pode-se reconhecer que o ” comportamento eleitoral é fundamentalmente um acto individual, ainda que social, política e institucionalmente enquadrado”(André Freire), ou seja, a decisão de cumprimento ou não, dos eleitores, do exercício do direito de voto ou a decisão de votar num ou noutro partido/coligação, tem consequências para o todo social.
Sendo inegável que o indivíduo é o elemento fundamental do acto eleitoral, torna-se pertinente perceber as razões que estão subjacentes à sua não participação nesse mesmo acto.
Nas últimas eleições autárquica intercalares à Câmara de Lisboa, a abstenção, que era já prevista e anunciada nos discursos de diversos actores políticos – candidatos, partidos políticos, mediadores e média, antevia a maior abstenção de sempre para essas eleições. Os motivos apresentados, centravam-se essencialmente na época estival, em plenas férias de verão, que poderia levar os eleitores a encarar as eleições como secundárias relativamente às férias.
E, tal como era previsível, os eleitores de Lisboa, remeteram-se a uma aparente apatia ou passividade política nas eleições intercalares para a Câmara Municipal e os números abaixo representados, são bem o retracto do que acabo de afirmar.
Segundo dados da CNE, apenas 40,59% dos 524,140 eleitores votaram, isto significa, que a actual Câmara, eleita com 29,49% dos votos, foi também eleita por apenas 56.732 eleitores, ou seja, por uma percentagem de 10,8% da população recenseada.
Perante a evidência dos resultados obtidos nessas eleições pergunta-se: terão sido efectivamente as férias que afastaram os lisboetas do seu direito de participação política?
Deveria ter sido, aliás, deve continuar e é urgente, pensar nisso, já que se aproximam mais dois actos eleitorais importantes, e as perspectivas do quadro se alterar são muito baixas.

sábado, 11 de julho de 2009

Quem enfia o barrete?

"(...)Todos os medíocres são semelhantes e orgulham-se assim dos seus fracassos..."

Alexandre Honrado in A Montanha Russa de Deus

Em nome do desporto

Neste momento estou a assistir à abertura dos Jogos da Lusofonia. Como qualquer bom português, não deixei de me emocionar, principalmente, pelo facto de pensar que existem trezentos e tal milhões de pessoas, que na teoria, partilham a mesma língua. Claro que a história nos ensinou, a faceta mais nobre dos descobrimentos portugueses, e a outra versão, só cada povo a sentirá e contará na sua perspectiva. Mas, se algo de bom sobreviveu a essa odosseia, foi certamente a partilha da língua portuguesa. Se a língua, constitui um dos principais símbolos identitários de uma nação, o português é o símbolo de partilha e união de culturas tão diferentes e tão distantes como são estas 12 nações espalhadas por 4 continentes.
Se à seis séculos, o que nos juntou foram outros valores, nem sempre nobres, que o desporto, seja neste momento, o valor mais alto e mais nobre que nos una novamente.

"Tudo valeu a pena?
Tudo vale a pena se a alma não é pequena"

Fernando Pessoa

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Os tristes episódios da telenovela Assembleia da República

Li à dias, num dos jornais diários, que António José Seguro, do PS, defende a liberdade de voto para os deputados da Assembleia da República, pois a continuar assim, ou seja, se os deputados estão obrigados à disciplina de voto imposta pelos partidos, não seriam necessários mais do que 6 deputados, um por cada partido.
Não poderia estar mais de acordo. De facto, estarem vários deputados a votarem todos no mesmo sentido, ou, estar apenas um, o resultado é absolutamente o mesmo. Para mais, traria algumas vantagens, como por exemplo, uma poupança significativa dos dinheiros públicos e a "poupança" ao povo de Portugal, de continuar a assistir à desvirtualização e decadência da AR, que deveria ser uma das mais importantes Instituições nacionais, construtora e representativa da nossa democracia, pois ela é o segundo orgão de soberania do nosso país.
O porquê deste desabafo? Começando pelo fim, porque ainda ontem, dia 08-07-2009, decorria na AR mais uma reunião plenária, onde estavam a ser discutidas algumas propostas de Lei, entre elas a nº 280/x - Lei dos Portos, ou a 281/x - Lei da Navegação Comercial Marítima e outras, e a sala estava praticamente vazia! Pois é, eu estava lá e vi. Dos 230 deputados eleitos pelos cidadãos, estariam presentes, pelas 17h30, cerca de 70. Exactamente, 70!! e o programa ainda nem ía a meio. Os lugares vazios, de todas as bancadas, nem sequer tinham indícios de o seu ocupante estar ausente apenas para um "coffe brake", pois até os ecrans dos computadores estavam desligados! Alguns dos presentes, estavam lá, de facto, de corpo presente, mas, completamente ausentes do que estava a ser debatido, dito ou comentado pelos oradores. Foi muito triste! Aliás, aquando da actuação infeliz do ex-ministro da economia Manuel Pinho, o que me indignou e que considerei desrespeitoso, não foram os gestos do ministro, mas sim, o facto de o plenário estar quase vazio. As imagens que passavam na televisão, mostravam os lugares vazios, mas ninguém falou nisso, nem a comunicação social. A concentração foi apenas e toda, para os gestos de Manuel Pinho.
Quanto à liberdade de voto, a minha posição não poderia ser mais conivente com a de António José Seguro. Mesmo sendo um ponto de alguma polémica e tenha eu defendido, em muitas situações, a não inclusão de independentes nas listas - justificando uma parte da minha opinião, precisamente na liberdade de voto que, os independentes, possuem relativamente aos militantes dos partidos- a verdade é que os deputados estão ali para defender os interesses dos cidadãos que os elegeram e não os interesses partidários. A separação destes interesses, no meu ponto de vista, daria muito mais espaço à democracia e, talvez quem sabe, ao retorno da confiança dos cidadãos eleitores deste país, nos políticos, na política e nas diversas instituições, nomeadamente, as políticas. Quem sabe, não seria esta uma das formas de combater a abstenção. É que assim, nem os próprios militantes se sentem em liberdade democrática e participativa. Não passam de "carneirinhos" que dizem e fazem o que lhes dizem para fazer. Será que sentem que vivem em democracia? Será que se sentem-se satisfeitos no seu papel de "pau mandado", de "marionetas", de acéfalos? É que o cérebro faz parte da anatomia humana também para dar aos homens a faculdade de pensar, aprender, de ter opinião e dizer não quando é preciso.

domingo, 5 de julho de 2009

Qual é a qualidade da democracia em Portugal?

Por norma, não gosto de movimentos e discursos de carácter femininista, aliás, devo confessar que nem gosto da comemoração do dia da mulher, pelo sentido e valores de diferenciação a eles associados. Por um lado, porque as mulheres não têm que ser mais, nem melhores do que os homens, por outro lado, porque comemorar o dia da mulher é, para mim, o assinalar, o acentuar e aceitar uma desigualdade entre cidadãos.
Enquanto cidadã, a lembrança de como era viver no antigo regime e a revolução do 25 de Abril não é mais do que uma franja na minha infância, sem consequências, sem revoltas. Mas enquanto mulher, a viver num país democrático há 35 anos, a revolução do 25 de Abril tem outros significados, essencialmente, porque o que muitos cidadãos deste país ganharam com ele e com a democracia, o direito à liberdade e à igualdade, muitos outros, a maioria ainda continua a lutar por estes direitos e, entre estes, as mulheres.
Mesmo que a partir de 1974 com a Lei nº 621-A de 15 de Novembro se tenha formalmente abolido as restrições baseadas no sexo e alterado o texto da Constituição da República Portuguesa e, posteriormente, o estatuto social e jurídico da mulher, a verdade é que passados 35 anos, ainda não foi atingida a igualdade plena em termos práticos, com consequências muito graves, não apenas para as mulheres, mas, também para a sociedade em geral. E enganem-se aqueles que estão já a pensar, “lá está ela, mulheres ao poder”, porque esta realidade vai muito para além dessa circunstância, e é isto é que é preciso ser falado e relembrado.
Gostaria de evidenciar algumas assimetrias em domínios chave para a concretização plena da igualdade de género: o trabalho remunerado e os processos de tomada de decisão.
Sendo o trabalho remunerado a principal fonte de recursos que permite, não apenas, a independência e a segurança económica das pessoas, ele é, também, essencial para o desenvolvimento individual, auto-estima e acesso à satisfação das necessidades básicas de sobrevivência, tanto para homens como para mulheres.
Em Portugal, como no resto do mundo, a desproporção entre os rendimentos/salários de homens e mulheres é elevado, muito se devendo ao facto de que as oportunidades de emprego no mercado de trabalho serem inferiores para as mulheres. E isto reflecte-se, principalmente, num maior índice de pobreza entre a população feminina, com repercussões graves no acesso a outros recursos como a saúde, a educação, a bens culturais e de lazer.
Mas esta situação funciona como uma reacção em cadeia e de consequências a médio e a longo prazo. Quando as mulheres entram mais tarde no mercado de trabalho do que os homens; quando, por motivos de maternidade, ficam em casa; quando são despedidas dos seus empregos; quando recebem salários mais baixos. Todas estas condições se vão reflectir na sua carreira contributiva e, inevitavelmente, na sua reforma. A estes factores acrescentamos ainda as dificuldades associadas ao facto das famílias apenas terem disponível um vencimento - porque os modelos de família também estão a mudar e cada vez mais encontramos famílias monoparentais, sendo, na maioria dos casos, as mães que ficam com os filhos e não têm qualquer ajuda financeira do outro progenitor. Esta é uma situação de graves consequências, não apenas para a mulher e mãe, mas também para para os filhos, pois a satisfação das necessidades básicas das crianças, tais como o acesso à educação ou qualificação profissional fica bastante condicionada, reproduzindo na geração mais nova a mesma assimetria sócio-económica de desigualdade de oportunidades versus pobreza.
Em Portugal, a população feminina representa mais de metade dos indivíduos, cerca de 52% e apesar desta maioria, segundo dados do INE do 4º trimestre de 2003, as mulheres apenas ocupavam 32,5% dos cargos superiores das empresas. A taxa de emprego em 2006 era de 62,6% para os homens e 45,1% para as mulheres. A taxa de desemprego era de 8,7% para as mulheres e 6,7% para os homens, subindo em 2007 para valores muito superiores, 9,6% para as mulheres e 7,1 nos homens (dados Eurostat). Segundo algumas fontes, o valor médio dos salários das mulheres é de menos 23% do que do homens, podendo atingir os 27% quando se considera os ganhos médios mensais, que incluem outras componentes do salário de natureza geralmente arbitrária (DETEFP, Quadros de pessoal, 1998).

No que se refere à escolaridade, o panorama não muda muito. São cada vez mais mulheres jovens com o Ensino superior e são, também, em maior número as mulheres mais velhas sem qualquer escolaridade. Neste capítulo, infelizmente os dados são, mais uma vez, desfavoráveis ao sector feminino, pois dos 269 200 com mais de 65 anos, sem nenhuma escolaridade, 153 100 são mulheres.
Desigual é também a partilha do poder na esfera pública entre as mulheres e os homens. Este facto leva, na prática, a que a vida das mulheres seja, em larga medida, condicionada pela aplicação do modelo masculino à organização da sociedade e que conduz ainda ao desperdício de cerca de metade dos recursos disponíveis e à satisfação do interesse geral.
A sociedade portuguesa separa, num modelo horizontal e vertical, a presença relativa de mulheres e de homens, nas diferentes esferas da sociedade, económica, social, política, etc. Isso é bastante visível se olharmos para o conjunto de actividades e profissões, onde ainda se sente uma forte concentração da mão-de-obra feminina. Estas estão frequentemente associadas a actividades que estabelecem uma ampliação profissionalizada das tarefas tradicionalmente desempenhadas pelas mulheres no contexto do espaço doméstico. Dou como exemplo os ramos de actividade que apresentam maiores taxas de feminização: serviços pessoais e domésticos – 98,8%, saúde e acção social – 80,6% e educação – 75,6% (INE, Inquérito ao Emprego, 1998).

Nos cargos políticos a taxa de feminização, segue o mesmo rumo, ou seja, mesmo tendo vindo a aumentar, recorde-se que nas primeiras legislativas após o 25 de Abril, esses valores correspondiam a 4,9%, em 1999 foi de 17%. O XIV governo constitucional, era constituído por 23 ministros, dos quais apenas 3 eram mulheres e dos 43 secretários de estado, 3 eram mulheres. Actualmente temos no governo, 55 membros, incluindo o 1º ministro. Destes 16 são ministros sendo apenas 2 do sexo feminino e 37 secretários de estado, onde apenas 4 são mulheres.

No Bombarral, o concelho onde resido, tinha registados em 2001, uma população de 13 324 indivíduos, e desses, 51% eram mulheres. Do total, 5350 constituíam a população activa, apenas 1975 eram mulheres. Dos 443 desempregados, 324 (73%) eram mulheres. À procura de um novo emprego estavam 360 indivíduos e, mais uma vez, a maioria eram mulheres, 266. Dos 1886 núcleos familiares com filhos, 285 eram de mães com filhos.

Quanto à escolaridade, uma grande maioria de mulheres não possui qualquer grau de escolaridade. Num total de 875 cidadãos, 492 são do género feminino.

O número de mulheres a ocupar cargos/posições políticos, é totalmente irrisório. Existe uma senhora que é presidente da Assembleia Municipal, quatro deputadas na Assembleia Municipal, uma presidente Junta na freguesia da Roliça e pouco mais, num universo de várias dezenas de eleitos do género masculino.

A mensagem que quero deixar é: que façamos um apelo à reflexão e mudança de mentalidades, pois não estamos apenas a desperdiçar recursos como estamos, também, a produzir e a reproduzir uma sociedade cada vez mais empobrecida e discriminatória. Os valores da democracia e os direitos inscritos na Constituição Portuguesa, não estão a chegar a todos os cidadãos da mesma forma como seria justo e espectável, ou seja, independentemente das capacidades físicas, intelectuais, qualificações ou sexo de cada um.

E esta continua a ser a luta de alguns, 35 anos depois…

Qual é, afinal, a qualidade da democracia em Portugal?

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Sophia de Mello Breyner Andresen- 2 Junho 2004/2009

Cinco anos após a sua morte, Sophia de Mello Breyner Andresen, continua a ser recordada, não apenas como poetisa e escritora mas também como uma mulher que lutou pela liberdade, pela justiça e pela democracia em Portugal.
A Câmara Municipal de Lisboa homenageou Sophia de Mello Breyner Andresen e presenteou Lisboa com o seu busto e uma placa toponínica com o nome da autora. Quem visitar o miradouro da Graça, sabe que está num dos locais preferidos de Sophia.
Recordando um pequeno poema, aqui deixo a minha homenagem.

A Forma Justa

Sei que seria possível construir o mundo justo
As cidades poderiam ser claras e lavadas
Pelo canto dos espaços e das fontes
O céu o mar e a terra estão prontos
A saciar a nossa fome do terrestre
A terra onde estamos — se ninguém atraiçoasse — proporia
Cada dia a cada um a liberdade e o reino —
Na concha na flor no homem e no fruto
Se nada adoecer a própria forma é justa
E no todo se integra como palavra em verso
Sei que seria possível construir a forma justa
De uma cidade humana que fosse
Fiel à perfeição do universo
Por isso recomeço sem cessar a partir da página em branco

E este é meu ofício de poeta para a reconstrução do mundo
Sophia de Mello Breyner Andresen, in "O Nome das Coisas"