sexta-feira, 26 de março de 2010

As desigualdades de género (continuação)

Se por um lado as mulheres começam a ter um papel mais activo em áreas reservadas ao homem, por outro lado, será fácil de deduzir que o homem terá que ter um papel mais activo em funções que estavam reservadas à mulher. No entanto, se essa é a conclusão implícita, na prática, segundo o estudo do INE de 2002, verifica-se que “Considerando os valores obtidos no Inquérito à Fecundidade e Família (IFF) (para a amostra total de mulheres e homens), existem papéis que continuam a ser associados a apenas um dos sexos. São principalmente as mulheres que se ocupam das tarefas domésticas, dos cuidados com os filhos e dedicam mais tempo à família. Por oposição, os homens surgem como os que na família mais tempo dedicam ao trabalho profissional e mais contribuem para as despesas domésticas.”
Se aprofundar - mos um pouco mais a análise constatamos, ainda que as tarefas relacionadas com a preparação de refeições, cuidados com a casa e roupa ou as compras, estão ainda profundamente associadas às mulheres. Todavia os valores registam uma acentuada diminuição no que diz respeito à preparação de refeições, mantendo-se elevados para as tarefas de limpeza da casa e uma menor disparidade em relação a quem faz as compras, uma vez que, grande parte dos homens assume cada vez mais essa função.
A partilha de tarefas relacionadas com os cuidados à família (como por exemplo acompanhar a vida escolar dos filhos, levar os filhos à natação, brincar com os filhos, levá-los ao teatro, a concertos e levar os filhos ao médico) é, por seu turno, cada vez maior, se comparadas com a partilha de tarefas domésticas.
Apesar de maior partilha de actividades entre homens e mulheres, ainda se verifica que a mulher está mais ligada a tarefas com que sempre foram identificadas. A atestar o atrás exposto está o maior número de horas que as mulheres despendem no conjunto das tarefas domésticas e a profissão, pois segundo estudos recentemente divulgados, no conjunto entre o trabalho doméstico e o profissional, as mulheres trabalham em média mais duas horas por dia.
Os diversos estudos desenvolvidos até final dos anos noventa, revelavam uma maior partilha de tarefas entre os elementos do casal e uma maior abertura da sociedade a tarefas que tradicionalmente estavam reservadas aos homens. Porém, a homogeneização das tarefas e actividade profissional entre o homem e a mulher têm vindo a provocar alterações nos modos de vida e na estrutura familiar. Por exemplo, a menor disponibilidade por parte da mulher para cuidar da casa e do agregado familiar leva a que os casais optem por ter menos filhos, por tê-los cada vez mais tarde e, cada vez mais, a necessitar do apoio de outros familiares para ajudar, como os pais. O problema é que actualmente, se começa a verificar que muitos dos pais - mãe e pai- dos novos casais, ainda estão na vida profissional activa, o que acrescenta outro tipo de problemas e com repercursões (ainda não totalmente previstas) não apenas ao nível da família mas, também, sociais e que não se prendem exactamente com alterações de mentalidade, estruta familiar ou valores, mas sim, com questões de igualdade de oportunidades por um lado e, por outro lado, com a própria regeneração da população.
(continua)

quinta-feira, 25 de março de 2010

Apenas Ame...

Não ame pela beleza, pois um dia ela acaba.
Não ame pela admiração, pois um dia se decepciona...
Ame apenas, pois o tempo nunca pode acabar com um amor sem explicação.

Madre Teresa de Calcutá

domingo, 21 de março de 2010

Hoje é o Dia da Poesia

Conquista

Livre não sou, que nem a própria vida
Mo consente.
Mas a minha aguerrida
Teimosia
É quebrar dia a dia
Um grilhão da corrente.

Livre não sou, mas quero a liberdade.
Trago-a dentro de mim como um destino.
E vão lá desdizer o sonho do menino
Que se afogou e flutua
Entre nenúfares de serenidade
Depois de ter a lua!

Miguel Torga, in 'Cântico do Homem'

Hoje é o Dia da Poesia

As Mãos

Com mãos se faz a paz se faz a guerra.
Com mãos tudo se faz e se desfaz.
Com mãos se faz o poema - e são de terra.
Com mãos se faz a guerra - e são a paz.

Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedras estas casas, mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.

E cravam-se no tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.

De mãos é cada flor, cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.

Manuel Alegre

sábado, 20 de março de 2010

As desigualdades de género (continuação)

Continuando o tema da crónica anterior e no que diz respeito ao tipo de família, segundo os dados dos Censos de 1991 e 2001, verifica-se que a maioria, são famílias clássicas (99,9%), ou seja, englobam indivíduos que residem no mesmo alojamento e que têm relações de parentesco entre si, ocupando a totalidade ou parte do alojamento, incluindo a pessoa independente que ocupa uma parte ou a totalidade de uma unidade de alojamento, e que estão distribuídas uniformemente pelo país. Quanto à estrutura familiar, constata-se que em 1991 as famílias compostas por apenas um indivíduo são as menos significativas, enquanto que em 2001, são as compostas por cinco ou mais indivíduos que ocupam esse lugar, sendo a maioria das famílias constituídas, em todas as regiões, por duas pessoas, ou seja, as famílias tendem a ficar mais pequenas.
Outro dado importante é o que se refere ao representante da família. Neste aspecto, embora tenha vindo a diminuir a diferença entre homens e mulheres nos últimos tempos, o homem tem uma posição de maior relevo, isto porque é o principal sustento da família, sendo que, a faixa etária com mais representantes da família é a dos 40 aos 44 anos. Em relação aos rendimentos constata-se que durante a década de 90, a maioria dos trabalhadores por conta de outrem a receber o ordenado mínimo são mulheres, tendo sempre valores iguais ou superiores a 50% ao total da população masculina e feminina. As remunerações médias também são geralmente mais baixas no sector feminino, excepto em áreas da Administração Pública, Defesa e Segurança Social Obrigatória, em que o valor médio recebido pelas mulheres era de 176,1 milhares de escudos e pelos homens de 145,6 milhares de escudos.
Ainda referente a dados dos anos 90, as famílias com filhos são a maioria (60%) e a média de filhos por casal é de dois filhos. Convém salientar que devido à dificuldade de conciliação entre tarefas domésticas e vida profissional, as mulheres tendem a ter filhos cada vez mais tarde.
Posto isto e segundo alguns inquéritos nacionais e europeus mais recentes sobre factores como o trabalho, amigos e conhecidos, religião e família, temos que reconhecer que apesar das alterações nos comportamentos, a família ainda tem um importante valor na sociedade portuguesa.
(continua)

sexta-feira, 19 de março de 2010

As desigualdades de género

Nas últimas décadas, principalmente depois de 1974, muitas alterações têm vindo a ocorrer na sociedade portuguesa, quer na vida social e familiar, quer nos comportamentos ou na actividade profissional dos indivíduos. Muitas destas alterações estão intrinsecamente ligadas ao surgimento de novos conceitos de mulher e cidadão, dado que a condição feminina e o seu novo papel na sociedade e na vida pública, ganharam uma nova dimensão, principalmente porque ela passou a ter acesso ao mercado de trabalho, ao ensino e a cargos públicos, anteriormente apenas reservados aos homens. Com a lei nº 621-A/74 que abole todas as restrições baseadas no sexo e com a alteração do texto constitucional no que respeita às tarefas fundamentais do Estado e o princípio da igualdade, marca-se de forma definitiva essa mudança. Até então, a mulher tinha uma existência diminuída, sem autonomia e com estatuto social e jurídico diferenciado e desvantajoso, a vários níveis, relativamente ao homem. A mulher era vista como um ser com capacidades diminuídas e como propriedade do marido, não tendo qualquer autonomia, nem mesmo financeira, já que era o marido o administrador dos bens do casal e era também a ele que cabia o papel de sustentar a família. A mulher limitava-se ao seu papel de esposa, mãe e dona de casa.
Com a entrada massiva da mulher no mercado de trabalho, o aumento gradual do nível de estudos no sexo feminino e o desenvolvimento dos métodos contraceptivos, a mulher tem vindo a conseguir uma maior autonomia, passando a desempenhar também papéis que antes estavam reservados aos homens. Segundo dados retirados do estudo do Instituto Nacional de Estatística, Mulheres e Homens em Portugal nos Anos 90, publicado em 2002, na década de 90 assiste-se a uma alteração na relação do número de licenciados entre os dois sexos. Se em 1992 a percentagem de mulheres licenciadas era de 3,7% e 4,6% para os homens, no ano de 1999 tinha-mos 6,1 % das mulheres e 4,9% dos homens com o ensino superior e em 2006, havia por cada 189 mulheres com ensino superior por cada 100 homens.
No início dos anos 90, mais de um terço das mulheres portuguesas deixou de estar ligada apenas às supracitadas categorias. Em 1995, cerca de 42,6% da população activa eram mulheres e mais de 50% eram mulheres casadas, que exerciam uma profissão. Segundo dados do INE relativamente ao 1º trimestre de 2006, a população empregada em Portugal atingia neste período os valores de 5126,9 (milhares de indivíduos), correspondendo a uma taxa de actividade da população de 62,2%. A taxa de actividade das mulheres em idade activa atingia os 55,9%.
Devido a estas alterações, tanto os modelos de família, como as obrigações familiares e do Estado, foram-se desenvolvendo de forma a adaptar-se a essas transformações sociais e económicas. Juntamente com estas verificam-se igualmente alterações nas práticas familiares e conjugais que revelam algumas atitudes, que alguns designam de “mais modernistas”, como o aumento dos casamentos civis em detrimento dos religiosos e aumento das uniões de facto ou a baixa na natalidade e de nascimentos tardios.
Estas alterações sociais têm levado, igualmente, a uma crescente importância das questões de género, nomeadamente, a repartição das tarefas domésticas, que tem sofrido um esbatimento devido ao papel que a mulher tem assumido na família e na sociedade. Estas alterações, especialmente as que se relacionam com a situação de trabalho, obrigam a mulher a despender mais tempo fora de casa com a consequente alteração dos hábitos tradicionais, que associam a mulher às tarefas domésticas incluindo o cuidar dos filhos. Segundo dados do INE, por exemplo, as taxas de actividade para a população activa, tem crescido nas mulheres, registando o valor mínimo de (40,9%) em 1992, e o valor máximo em 1999 (44,2%), enquanto nos homens se tem mantido homogénea por volta dos (57%).
Outra alteração verificada prende-se com as diversas iniciativas legislativas na área laboral, como a recente Lei da Parentalidade (DL-91/2009), no sentido de adaptar a vida profissional à vida familiar e pessoal dos indivíduos, tal como o reconhecimento do direito à maternidade e paternidade como valores sociais, artºs 59º e 68º da Constituição da República Portuguesa. Mas, infelizmente o que se observa é que não existe uma correspondência real entre as práticas, os valores e a Lei.
(continua)

segunda-feira, 8 de março de 2010

Eva Vital a mais jovem campeã nacional dos 60 metros barreiras



Aqui mesmo ao lado, no concelho de Caldas da Rainha, tenho assistido com bastante agrado, ao surgimento de jovens atletas, que se têm vindo a destacar no atletismo e não me estou apenas a referir ao nível regional ou mesmo distrital, mas sim, ao mais alto nível nacional.
Sem querer de alguma forma desmerecer todos os outros jovens atletas, quero deixar aqui uma referência especial à Eva Vital, uma jovem de 17 anos que já possui um palmarés invejável e que é a actual Campeã Nacional dos 60 metros barreiras.
Esta atleta junior participou no Campeonato Nacional Absoluto em Pista Coberta, realizado na nave desportiva de Espinho nos dias 27 e 28 de Fevereiro de 2010, sagrou-se campeã Nacional nos 60 metros barreiras com o tempo de 8,44 segundos. No campeonato Nacional de Juniores, que decorreu no Pavilhão Expocentro de Pombal a 13 e 14 de Fevereiro, ela conseguiu a marca de 8,37 segundos (record nacional de Juniores) nos 60 metros barreiras, depois de no ano anterior ter conseguido também a melhor marca dos 60 metros planos dos últimos vinte anos, (7,57 segundos). A Eva é a actual detentora do record nacional de juvenis e juniores nos 100 metros barreiras, 13,66 segundos, conseguido também o ano passado no Campeonato Europeu de Atletismo por Equipas realizado em Leira, quando tinha 16 anos e representava ainda o Arneirense.
Palavras para quê. Os meus parabéns.

Dia Internacional da Mulher

Apesar de não gostar da existência de um dia “Internacional da Mulher” e da Lei da Paridade - que de paridade nada tem - porque são, do meu ponto de vista apenas a expressão da descriminação que ainda existe, não posso deixar de concordar que, pelo menos neste dia, se traz a público a vergonha dos números, das diferenças, da descriminação de que todas nós, mulheres, ainda somos alvo.
A todas a Mulheres eu dedico este post, e a todos os homens também, incluindo aqueles que ainda fazem e pensam a mulher como um ser inferior, mesmo sabendo que sem elas, eles nem sequer teriam nascido!!!
Ser Mulher

Ser mulher
É ser esposa e companheira
Amante terna e fagueira
Que o amor sabe entender

Ser mulher
É ser mãe e conselheira
Dedicada de alma inteira
A que devota o seu ser.

Ser mulher
É ser do lar timoneira
Na doença a enfermeira
É dar mais que receber

Ser mulher
É ser fonte d'existência
Que cala a voz da ciência
A força de ser mulher...

Ser mulher não é somente
A figura e a fulgência
É muito mais transcendente
Do que essa mera aparência.

Ser mulher é ter coragem
De pôr fim à injustiça
Dessa humilhante imagem
Que outrora a fez submissa.

Ser mulher é dizer não
Ao abuso e violência
À vil discriminação
E à austera prepotência.

Ser mulher é procurar
O direito à igualdade
E sem tabus comungar
Tudo com justa equidade

Ser mulher é esse alguém
Avó, neta, irmã ou filha
Devotada esposa e mãe
Que o seu amor compartilha.

Ser mulher é sim lutar
Para ser compreendida
E sem medo conquistar
Os seus direitos na vida !...

Euclides Cavaco

quarta-feira, 3 de março de 2010

O Poder dos Mass Media (continuação

Começo esta última crónica sobre o Poder dos Mass Media pegando nesta frase de Pierre Bourdieu o “ universo do jornalismo é um campo, que está sob a coação do campo económico por intermédio dos níveis de audiência. E este campo muito heterogéneo, muito fortemente submetido às coações comerciais, excede ele próprio uma coação sobre todos os outros campos, enquanto estrutura”. Enganem-se aqueles que consideram que é apenas o jornalismo independente e isento, que está em decadência, pois também o jornalismo e o jornalista profissional perdeu a autonomia em relação aos empregadores, estando, por isso dependente do mercado e de pressões comerciais para trabalhar. Como diz Boaventura Sousa Santos “Este tipo de jornalismo está hoje ameaçado por um tipo alternativo: o jornalista proletário, privado de opinião própria, sujeito como qualquer trabalhador a receber ordens, quer para escrever, quer para eliminar conteúdos. É uma transformação violenta que, para ser combatida com eficácia, precisa ser vista, não como um ataque aos jornalistas, mas como um ataque à democracia”.
O jornalismo profissional, surgiu como forma de garantir a credibilidade da informação, demarcando-a dos interesses dos proprietários públicos ou privados dos media. Apesar dessa determinação inicial, tem-se vindo a constatar que influência política nos media, é amplamente determinada pelos jornalistas profissionais e pela sua interacção com e das elites políticas. Pois estas elites, a partir do momento em que têm acesso desigual aos símbolos económicos e simbólicos, utilizam essa mais-valia como uma ferramenta para exposição dos seus interesses, agindo como se fosse no interesse de todos,e ganhando desta forma, não apenas o consenso popular para as políticas, arranjos sociais e ideias a seu favor como, também, o apoio (mesmo que forçado) dos jornalistas, dados os interesses profissionais, pessoais e económicos associados. De acordo com James Curran “o seu domínio pode originar a marginalização de outras perspectivas, fazendo com que os media definam o debate público em função das posições elitistas.”
Do meu ponto de vista, a comunicação social, tal como os jornalistas, têm responsabilidades sociais que não podem estar cativas de outros critérios senão os dos princípios éticos e deontológicos da profissão, correndo o risco de a legitimidade do processo de comunicação – produção e divulgação da informação - não respeitar os princípios de liberdade, objectividade e pluralismo, convenientes numa sociedade efectivamente democrática. Não praticando e não respeitando as suas obrigações perante o público, impedindo a participação esclarecida e a interacção racional entre os diversos actores do campo mediático, a comunicação social não cumpre os princípios fundamentais da democracia. Tal como afirmou Boaventura Sousa Santos numa artigo da revista Visão de 25 de Novembro de 2004, os media que deviam ter “uma função de vigilância em relação aos detentores de poder político, económico e social, dando a informação que torne possível o controlo democrático (…) e fornecer informação credível e um expectro amplo de opiniões sobre questões importantes para o desenvolvimento da cidadania”, acabam, assim, por comprometer esse papel em função dos seus próprios de interesses económicos e ideológicos por três motivos que me parecem por demais evidentes. Primeiro, porque a sua independência do poder político nem sempre acontece e, com regularidade, programas de televisão, jornalismo de investigação e o agendamento ou escolha dos temas de debate, são uma forma de responder a iniciativas dos políticos ou dos governos; segundo, porque estando também economicamente dependentes do sector privado, nem sempre estão isentos, das influências políticas ou ideológicas daqueles de que financeiramente dependem; terceiro, porque estando os media fortemente dominados pela lógica da rentabilidade financeira, o entendimento de grande parte dos administradores dos meios de comunicação, apenas vê as notícias e outros programas, como produtos para vender.
Como parece claro, e recorrendo à ideia deixada por Manuel Castells, a lógica de acção dos média, não favorece uma maior inclusão ou participação dos cidadãos no debate político, no desenvolvimento da cidadania activa ou uma sociedade cada vez mais participada pelo cidadão, funcionando em muitas circunstâncias como “gatekeepers” (porteiros) nos fluxos de informação, moldando a opinião pública e criando uma realidade, conveniente, tanto para si próprios como também para quem tem o poder económico e político.
Os media são actualmente, o meio de comunicação que converte o espaço público, não só, num espaço de comunicação mas, também, num espaço de interacção, de mobilização e de conflito, continuando, infelizmente, a ser uma ferramenta pouco utilizada para a participação civil nas determinações ora dos governos ora das empresas ora de outros centros de decisão.

FASCINAÇÃO

Os sonhos mais lindos sonhei
De quimeras mil um castelo ergui
E no teu olhar
Tonto de emoção
Com sofreguidão
Mil venturas previ
O teu corpo é luz, sedução
Poema divino cheio de esplendor
Teu sorriso prende, inebria, entontece
És fascinação, amor

Elis Regina

As Novas Tecnologias


segunda-feira, 1 de março de 2010

Todas as Cartas de Amor são Ridículas

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)

Álvaro de Campos

A misteriosa baixa da pivot do Jornal de Sexta

Não pude deixar de partilhar esta pequena crónica

Do blog http://bussola.blogs.sapo.pt/131812.html

Quinta-feira, 25 de Fevereiro de 2010

Mesmo correndo o risco de me chamarem vaidoso, devo declarar que sou um cliente de sonho para a Segurança Social. Em 2010 estou a comemorar 30 anos consecutivos de contribuições e continuo no activo. Só estive de baixa uma única vez, quando se revelou que não era apenas no sentido figurado que o meu coração era fraco. E nunca recorri ao subsídio de desemprego, nem ao Rendimento Social de Inserção (RSI). Sou um contribuinte líquido. Estou para o sistema como a Alemanha para a União Europeia.
Infelizmente nem todos são como eu. Há gente tão preguiçosa que, se pudesse, até evitava adormecia só para se poupar ao trabalho de acordar no dia seguinte. Os malandros que usam e abusam da baixa, apesar de estarem de saúde, vivem com a mão metida na carteira de pessoas como eu, ameaçam a sustentabilidade do Sistema de Segurança Social e contribuem, na medida das suas possibilidades, para que as contas públicas fiquem em pior estado que o chapéu de um trolha.
Felizmente, a Segurança Social é um dos sectores em que a coisa pública tem sido gerida com elevadíssimos níveis de eficácia, ao ponto de apresentar sucessivamente excedentes que compensam a quebra das receitas fiscais. Em 2009, o desempenho foi tão bom que o Governo poupou 85,6 milhões na atribuição das prestações sociais, dos quais 16,4 milhões no subsídio de doença, 7,9 milhões no RSI e 60,9 milhões no subsídio de desemprego – uma redução que até me deixa com a boca aberta de espanto, pois trata-se do ano em que o desemprego atingiu os dois dígitos.
A Segurança Social está atenta e vigilante. Aproximadamente 75% das pessoas que estão de baixa há mais de um mês são presentes a uma Junta Médica, que manda cerca de 1/3 delas de volta para o trabalho. E mais de 20 mil acções de fiscalização domiciliária são realizadas anualmente para reduzir o número de pessoas que recebem subsídio indevidamente.
À luz desta implacável vigilância, a baixa da antiga apresentadora do Jornal de Sexta da TVI, que dura há mais de cinco meses (muita acima da média, que é de 7,2 dias) é um enorme mistério para mim, que adoptei na juventude fiz a divisa preferida de Karl Marx: de omnibus dubitandum (deve duvidar-se de tudo). Como ela anda para aí a fazer a vida normal, em festas e inaugurações, se desdobra em declarações e até se constitui assistente no processo Face oculta, só há duas hipóteses. Ou não está a ser fiscalizada, como todos os outros “baixistas”, o que é grave. Ou então é mesmo verdade que não anda mesmo bem da cabeça e por isso o melhor é não ligarmos muito às coisas que ela faz e diz.

Jorge Fiel
Esta crónica foi hoje (dia 25-02-2010) publicada no Diário de Notícias