sexta-feira, 4 de março de 2011

Tesourinhos...no atletismo português


Deixo aqui este apontamento sobre algumas situações, no mínimo caricatas, sobre o atletismo em Portugal, que quase me dá a tentação de os equiparar àqueles emails que já todos recebemos e que estão intitulados “Portugal no seu melhor” ou “ Autênticos tesourinhos de Portugal”.
A primeira diz respeito ao erro de inscrição da atleta Sara Moreira nos Campeonatos da Europa de Atletismo, já iniciados hoje dia 04-03-2011 em Paris (França) em que, por um infeliz erro, a atleta especialista nos 3000m e com ambições a uma medalha de ouro, foi inscrita na prova dos 1500m, para a qual não se preparou. Ouvi hoje na comunicação social durante a manhã que a atleta viajou para França junto com os outros atletas portugueses e que pretende competir nos 1500m.
Em primeiro lugar quero louvar esta atleta por esta decisão, pois mesmo não sendo a sua especialidade, não tendo sido a distância para que tem treinado, de perder a oportunidade de revalidar a medalha de prata que conquistou nos últimos campeonatos ou pior, ter-lhe sido retirada a oportunidade de conquistar o ouro, vai mesmo assim participar e dar o seu melhor nesta distância. É uma demonstração inequívoca da personalidade e compromisso desta atleta ao atletismo que, infelizmente, não encontramos muito por aí, seja no desporto seja noutra área qualquer da nossa vida colectiva. Não existem palavras ou argumentos que possam consolar a atleta por este erro que a impossibilita de poder participar numa prova para a qual tanto trabalhou, treinou e expectativas criou.
Apesar de sabermos que o ser humano não é infalível, estas coisas não devem nem podem acontecer, porque é como a água do rio que passa debaixo da ponte, nunca mais volta a passar, ou seja, podem existir outros campeonatos onde esta atleta possa competir, podem ser conquistadas outras medalhas ou outros títulos desportivos, desejo muito que sim, mas esta oportunidade passou, não por incompetência da atleta, não por falta de capacidade desportiva da atleta mas por um erro burocrático cometido por alguém. Mas também quero frisar aqui o seguinte, se existe a possibilidade do ser humano falhar, então porque é que os regulamentos não podem colmatar essa possibilidade? Ou seja, se se abrem excepções para tanta coisa, se se acrescentam ressalvas em tantos contratos, legislação e regulamentos, então porque é que os regulamentos das provas de atletismo não contemplam a possibilidade de excepção ou correcção de erros humanos? Ainda por cima quando os atletas já são conhecidos e todos sabem as modalidades e distâncias em que habitualmente participam. Penso de se deve reflectir sobre isto seriamente, pois se a memória não me falha, não é a primeira vez que acontece um erro deste género no atletismo.
Em segundo lugar e relativamente à demissão do Sr. Fernando Mota, é evidente que ele se sente moralmente responsável e pediu a demissão de Presidente da FPA, o que infelizmente, não vai resolver coisa nenhuma mas apenas vem acrescentar mais um problema ao problema já existente. Pois nem pela sua demissão se vai resolver a situação criada, superar a frustração ou diminuir o desalento à atleta Sara Moreira como, ainda por cima, o atletismo português fica deduzido de mais um elemento que tanto tem contribuído para a ascensão e valorização do atletismo português e dos atletas portugueses.
A segunda situação, apesar de ser benfiquista, diz respeito ao Sporting Clube de Portugal em geral, e às outras modalidades desportivas em particular com enfoque no atletismo.
Claro que vou falar do Sporting por razões relacionadas principalmente com o atletismo, pois ninguém tem dúvidas, apenas os sócios/adeptos sportinguistas parecem ter, que este clube tem sido e continua a ser o clube que mais atletas tem dado à Selecção Nacional de Atletismo, que mais atletas premiados a nível nacional e internacional tem tido, que mais títulos tem conquistado e este ano voltou a ser mais uma vez o Clube Campeão Nacional de Pista Coberta no sector feminino e masculino. Portanto, parecem-se ser razões mais do que suficientes para trazer este clube à berlinda, até porque, enquanto amante e praticante de atletismo nunca compreendi porque é que mesmo considerando a sua menor dimensão comparativamente ao futebol, os clubes, os grandes clubes, desprezam o atletismo. O Atletismo no Futebol Clube do Porto é o que se vê, o Sporting conseguiu inclusive, deitar abaixo um estádio com pista de atletismo e construir um novo só para o futebol, pista... nem de cinza, o estádio de Leiria, construído para o Euro 2004, levou pista de atletismo mas agora querem deitá-lo abaixo e nem o facto de existirem naquela cidade vários bons atletas praticantes de várias modalidades do atletismo ou já se terem lá realizado campeonatos internacionais e possibilidade de continuarem a ocorrer no futuro, é sequer motivo de ponderação para manter aquele espaço. Enfim é sempre mais do mesmo. A euforia é o futebol, o dinheiro é para o futebol, os investimentos são para o futebol mas os bons resultados desportivos são do atletismo. Não se compreende! Assim como não se compreende chamar desporto a uma modalidade que continuadamente é precursora de violência dentro e fora dos estádios, entre atletas, entre atletas e árbitros, entre atletas e treinadores, entre adeptos e entre adeptos e todos os anteriores. Voltando ao Sporting e à situação de desgoverno futebolístico, tenho assistido através da comunicação social, às apresentações das diversas candidaturas para o lugar deixado vago pelo senhor Bettencourt e o seu staff e, para além de várias questões que me assaltam sempre sobre as motivações que levam estas pessoas a apresentarem-se a eleições, interrogo-me sempre se não existe em nenhuma delas um nadinha de espaço para falar e elevar o clube também pelas conquistas das outras modalidades entre elas o atletismo. Claro que não conheço nem li os programas das diversas candidaturas, mas até hoje não ouvi uma palavra nem li uma linha onde não se falasse apenas do futebol e da desgraça do clube por causa do futebol.
Não é minha intenção desmerecer o futebol ou desvalorizar a dimensão da modalidade, mas os outros atletas e seus adeptos e sócios não devem sentir-se exactamente valorizados assim como eu enquanto atleta e cidadã portuguesa não me sinto, pois este país não pode ser só futebol e o resto ser paisagem. Atletas como a Albertina Dias no atletismo ou a Teresa Machado no lançamento do disco e peso e que representaram o atletismo português e Clubes como o Sporting Clube de Portugal e o Futebol Clube do Porto são algumas das vítimas da propensão futebolística dos grandes clubes e parece que naquilo ao que ao Sporting diz respeito, vai continuar, apesar de ter um enorme roll de atletas, alguns deles a competir neste momento nos Campeonatos Europeus de Atletismo em França, companheiros da Sara Moreira do Maratona.

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