quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

É o Fim que Confere o Significado às Palavras

Cada fim de Ano é, por norma, um momento de reflexão e é, também, a renovação da esperança para os 365 dias seguintes.
Alguns de nós, seres humanos, dedicam ou dedicaram a sua vida, ou parte dela, à reflexão e à crítica sobre a sociedade e os seus actores. Esses, fazem da palavra escrita, o meio eleito de partilha e de cada um de nós, leitores, os receptáculos dessas palavras sobre as quais, nós próprios, reflectimos e valorizamos em conformidade com os nossos próprios valores.
Samuel Beckett, prémio Nobel da Literatura em 1969 e considerado um dos principais autores do chamado Teatro do Absurdo, foi um desses seres humanos, um dos maiores dramaturgos do séc. XX, um crítico do próprio ser humano.
Este pequeno texto de Beckett é, do meu ponto de vista, um óptimo ensaio de reflexão para o final do ano 2009.


"Apenas as palavras quebram o silêncio, todos os outros sons cessaram. Se eu estivesse silencioso, não ouviria nada. Mas se eu me mantivesse silencioso, os outros sons recomeçariam, aqueles a que as palavras me tornaram surdo, ou que realmente cessaram. Mas estou silencioso, por vezes acontece, não, nunca, nem um segundo. Também choro sem interrupção. É um fluxo incessante de palavras e lágrimas. Sem pausa para reflexão. Mas falo mais baixo, cada ano um pouco mais baixo. Talvez. Também mais lentamente, cada ano um pouco mais lentamente. Talvez. É-me difícil avaliar. Se assim fosse, as pausas seriam mais longas, entre as palavras, as frases, as sílabas, as lágrimas, confundo-as, palavras e lágrimas, as minhas palavras são as minhas lágrimas, os meus olhos a minha boca. E eu deveria ouvir, em cada pequena pausa, se é o silêncio que eu digo quando digo que apenas as palavras o quebram. Mas nada disso, não é assim que acontece, é sempre o mesmo murmúrio, fluindo ininterruptamente, como uma única palavra infindável e, por isso, sem significado, porque é o fim que confere o significado às palavras."

Samuel Beckett, in 'Textos para Nada'

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Os palhaços, os da linha de Cascais e os outros...

A propósito dos últimos episódios ocorridos numa sessão da Comissão de Saúde da Assembleia da República, divulgados pela comunicação social, já muito se falou, comentou, criticou e se tomou “partido”, enfim, o “festival” de sempre e que, infelizmente, já se está a tornar um hábito.
Se por um lado, esta divulgação/propaganda poderá ser considerada positiva dado que traz a público ou dá a conhecer aos cidadãos deste país, aquilo que os eleitos realmente são, como passam o tempo, como trabalham, como são altamente produtivos nas funções para onde foram eleitos e de onde retiram uma parte do "saláriozinho" que auferem (pago pelos contribuintes), como é educado e digno o relacionamento entre pessoas com graus académicos tão elevados e que ocupam altos cargos neste país, como doutrinam a arte de bem falar, como são responsáveis e dignificam os cargos que ocupam e as instituições que representam. Por outro lado, mostram o quão podre está a ficar a nossa sociedade, aumentando o descrédito total na instituições, nos políticos, na política e nas pessoas. Pior, estas imagens e estes comportamentos incentivam à desordem geral, pois o exemplo, como se diz, tem que vir de cima. Claro que isto pode ser uma desculpa para que cada um se desresponsabilize sobre a sua conduta, mas, isso não elimina nem retira, de forma alguma, o comprometimento que estas pessoas têm para com as instituições e para com a sociedade quando aceitaram os cargos e se obrigaram, por isso, a dignifica-los e a respeita-los.
Quando às opiniões de cada um sobre este assunto, também muito pouco de positivo se pode retirar, isto porque os comentários feitos são, na sua generalidade, uma extensão daquilo que foi visto e ouvido pelo país inteiro. Ou seja, de baixo nível, má educação e distribuição de ofensas -“piropos”- ora para uns ora para outros (conforme a simpatia política). Portanto, apenas se está a “decorar ainda mais o prato” e a alimentar algo que, logo à partida, já não é nada dignificante. Poderá perguntar-se se não seremos todos iguais caso haja oportunidade para tal?
É um desalento e é muito triste aquilo em que a sociedade se tornou e triste é, também, o que as pessoas fizeram das instituições públicas, políticas, justiça e outras...
Não são apenas as políticas e os políticos os actores principais desta palhaçada em que a nossa democracia se tornou. Infelizmente, quando olhamos ao nosso redor o que vemos é o desmoronamento e a descredibilização total da nossa democracia, da nossa liberdade, das nossas crenças, da nossa esperança e das nossas instituições.
O que fazer? Não sei, mas uma coisa é certa, as instituições não são edifícios, sedes, lugares ou espaços físicos e nem funcionam ou existem por si e em si. Existem porque existem pessoas e funcionam com pessoas e para as pessoas, com leis e com regras, daí que, na minha modesta opinião, o que é urgente alterar é o ser humano, a começar pela mudança de mentalidade, passando pelo comportamento, pela moralidade e terminando no respeito que devemos ao que nos rodeia, sejam pessoas, sejam animais seja a natureza.
Só um milagre de Natal!!! Dos bem GRANDES.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

O Natal

"O amor é aquilo que está contigo na sala, no Natal, se parares de abrires os presentes e escutares com atenção"

Bobby, 7 anos

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Jose Carlos Ary dos Santos

(...) Era a semente da esperança
feita de força e vontade
era ainda uma criança
mas já era a liberdade. (...)


Se fosse vivo, faria hoje 73 anos, aquele a quem chamam o poeta de Abril.
Existe sempre uma certa tendência de procurar na apologia das recordações e do passado, as justificações dos fracassos e das vitórias do presente. É neles, também, que depositamos as nossas esperanças, alimentamos os nossos sonhos ou imaginamos o nosso futuro.
As palavras que nos legou, são a apologia do nosso passado, do presente e podem ser a semente da nossa esperança, basta ler Ary...

Aqui fica uma pequena homenagem

Nona Sinfonia

É por dentro de um homem que se ouve
o tom mais alto que tiver a vida
a glória de cantar que tudo move
a força de viver enraivecida.

Num palácio de sons erguem-se as traves
que seguram o tecto da alegria
pedras que são ao mesmo tempo as aves
mais livres que voaram na poesia.

Para o alto se voltam as volutas
hieráticas sagradas impolutas
dos sons que surgem rangem e se somem.

Mas de baixo é que irrompem absolutas
as humanas palavras resolutas.
Por deus não basta. É mais preciso o Homem.

Ary dos Santos, in 'O Sangue das Palavras'

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

O que mudou?

ORDINARIAMENTE todos os ministros são inteligentes, escrevem bem, discursam com cortesia e pura dicção, vão a faustosas inaugurações e são excelentes convivas. Porém, são nulos a resolver crises. Não têm a austeridade, nem a experiência que faz o ESTADISTA. É assim que há muito tempo em Portugal são regidos os destinos políticos. Política do acaso, política do compadrio, política de expediente. País governado ao acaso, governado por vaidades e interesses, por especulação e corrupção, por privilégio e influência de camarilha, será possível conservar a sua independência?”

(Eça de Queiroz, 1867 in “O distrito de Évora”)

Mais uma ...adivinha.

As Leis são como as teias de aranha.
Os pequenos insectos ficam presos e os grandes furam-na.

Autor desconhecido