Cada fim de Ano é, por norma, um momento de reflexão e é, também, a renovação da esperança para os 365 dias seguintes.
Alguns de nós, seres humanos, dedicam ou dedicaram a sua vida, ou parte dela, à reflexão e à crítica sobre a sociedade e os seus actores. Esses, fazem da palavra escrita, o meio eleito de partilha e de cada um de nós, leitores, os receptáculos dessas palavras sobre as quais, nós próprios, reflectimos e valorizamos em conformidade com os nossos próprios valores.
Samuel Beckett, prémio Nobel da Literatura em 1969 e considerado um dos principais autores do chamado Teatro do Absurdo, foi um desses seres humanos, um dos maiores dramaturgos do séc. XX, um crítico do próprio ser humano.
Este pequeno texto de Beckett é, do meu ponto de vista, um óptimo ensaio de reflexão para o final do ano 2009.
"Apenas as palavras quebram o silêncio, todos os outros sons cessaram. Se eu estivesse silencioso, não ouviria nada. Mas se eu me mantivesse silencioso, os outros sons recomeçariam, aqueles a que as palavras me tornaram surdo, ou que realmente cessaram. Mas estou silencioso, por vezes acontece, não, nunca, nem um segundo. Também choro sem interrupção. É um fluxo incessante de palavras e lágrimas. Sem pausa para reflexão. Mas falo mais baixo, cada ano um pouco mais baixo. Talvez. Também mais lentamente, cada ano um pouco mais lentamente. Talvez. É-me difícil avaliar. Se assim fosse, as pausas seriam mais longas, entre as palavras, as frases, as sílabas, as lágrimas, confundo-as, palavras e lágrimas, as minhas palavras são as minhas lágrimas, os meus olhos a minha boca. E eu deveria ouvir, em cada pequena pausa, se é o silêncio que eu digo quando digo que apenas as palavras o quebram. Mas nada disso, não é assim que acontece, é sempre o mesmo murmúrio, fluindo ininterruptamente, como uma única palavra infindável e, por isso, sem significado, porque é o fim que confere o significado às palavras."
Samuel Beckett, in 'Textos para Nada'
Alguns de nós, seres humanos, dedicam ou dedicaram a sua vida, ou parte dela, à reflexão e à crítica sobre a sociedade e os seus actores. Esses, fazem da palavra escrita, o meio eleito de partilha e de cada um de nós, leitores, os receptáculos dessas palavras sobre as quais, nós próprios, reflectimos e valorizamos em conformidade com os nossos próprios valores.
Samuel Beckett, prémio Nobel da Literatura em 1969 e considerado um dos principais autores do chamado Teatro do Absurdo, foi um desses seres humanos, um dos maiores dramaturgos do séc. XX, um crítico do próprio ser humano.
Este pequeno texto de Beckett é, do meu ponto de vista, um óptimo ensaio de reflexão para o final do ano 2009.
"Apenas as palavras quebram o silêncio, todos os outros sons cessaram. Se eu estivesse silencioso, não ouviria nada. Mas se eu me mantivesse silencioso, os outros sons recomeçariam, aqueles a que as palavras me tornaram surdo, ou que realmente cessaram. Mas estou silencioso, por vezes acontece, não, nunca, nem um segundo. Também choro sem interrupção. É um fluxo incessante de palavras e lágrimas. Sem pausa para reflexão. Mas falo mais baixo, cada ano um pouco mais baixo. Talvez. Também mais lentamente, cada ano um pouco mais lentamente. Talvez. É-me difícil avaliar. Se assim fosse, as pausas seriam mais longas, entre as palavras, as frases, as sílabas, as lágrimas, confundo-as, palavras e lágrimas, as minhas palavras são as minhas lágrimas, os meus olhos a minha boca. E eu deveria ouvir, em cada pequena pausa, se é o silêncio que eu digo quando digo que apenas as palavras o quebram. Mas nada disso, não é assim que acontece, é sempre o mesmo murmúrio, fluindo ininterruptamente, como uma única palavra infindável e, por isso, sem significado, porque é o fim que confere o significado às palavras."
Samuel Beckett, in 'Textos para Nada'